quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

"Quem me roubou de mim?" e a minha vida

Engraçado eu estar aqui falando de um livro, ainda mais que não seja de historias do Paulo Coelho, ou coisa do tipo.
Justo eu, que sou o ser mais curioso do planeta, que sempre quer aprender tudo, estava parada no tempo. Na mesmice da minha vida ha anos.
Nao que a "mesmice da minha vida” não seja interessante, ou eu ao estaria nela ha tanto tempo. Mas porque eu sempre fui uma acumuladora de informações, úteis e inúteis. Seja qual for a novidade, eu quero saber. Quero descobrir, quero saber tudo sobre.
Aí um amigo me emprestou este livro, que julgo ser o recomeço da minha busca pelas coisas que eu ja deveria saber decor e salteado, porque com toda a minha curiosidade, eu ja deveria ter chegado neste ponto.
Mas sim, deixei a preguiça imperar por muito tempo, e me contentei em ser “rasa”.
Confundi ser rasa com ser leve, e me conformei. Gosto de ser leve, o que nao significa que tenho que ser rasa.
Tomei as rédeas da minha vida de volta, que estavam soltas por bastante tempo, e digo: voltei pra ficar.
Neste momento meu psicologo deve estar pensando, se estiver lendo “viu? eu falei”. rs
Discutimos ha pouco tempo sobre isso e disse que não via graça nenhuma em pessoas tipo ele. Que pessoas são diferentes e que eu gosto de ser assim. E ainda que um outro também gostaria de mim assim, porque eu gostaria dele assim. (ufa!)
Mas nao. A vantagem de ser uma metamorfose ambulante (como eu mesma me julgo), é poder mudar de opinião do dia pra noite. E dessa vez acredito que foi pra bem.

Logo no inicio do livro eu ja vi que a situação que ele descreve era muito familiar. Ele fala do roubo do seu “eu”, por um terceiro. Ele chama de sequestro.
O sequestrador te tira toda a autonomia de viver sua vida. Você se torna dependente das migalhas de afeto - quando existe - e acaba se acostumando com isso.
Me lembrou muito meu primeiro relacionamento sério.
Eu era inexperiente, e tudo que acontecia, eu achava que “era normal”. Que todo mundo assava por isso.
Primeiro ele me roubou minha auto confiança, porque eu estava acima do peso naquele momento, como nunca tinha estado antes. Conheci ele alguns anos antes, onde estava no auge da minha “beleza”, com o corpo que queria, por causa de um inibidor de apetite fortíssimo. E aí, quando ficamos juntos anos depois, ele fazia questão de me lembrar que eu ja fui muito melhor. Mas não de uma forma pra incentivar. Ele fazia pra machucar. E inclusive dizia que eu só estava com ele naquele momento porque eu não era mais o que era antes.
O cativeiro começou aí. Nas primeiras semanas de relacionamento, ele, empolgado, disse “.. aí a gente vai fazer academia junto e…”. Naquele momento meus olhos encheram de lagrimas. 
Tinha acabado de voltar dos EUA, onde tinha encontrado roupas que gostava, do meu tamanho. Me sentia bem com o meu peso como nunca me senti na vida. E aí vi que a pessoa que eu tava começando a ter um sentimento forte, não estava feliz com o meu corpo.
Cheguei a dizer “mas que disse pra vc que eu quero fazer academia?”.
Daí em diante foi 1 ano e meio de tortura psicológica.
Quando conheci ele, eu que sempre fui tao livre e com um certo pânico de compromissos em geral, fui feliz contar pra ele que por causa do que estava sentindo por ele, tive coragem de me inscrever de novo numa faculdade.
Ele ficou puto. “Você não fez faculdade até agora, e agora que ta comigo vai fazer?”
Brigamos todos os dias até o inicio das aulas. Consegui dar um basta, dizendo que não ia desistir da faculdade por causa dele. Ele parece ter se conformado, pois não me pediu mais pra desistir. (Sim, pasmem. Ele me pedia isso.)
Tambem quis colocar aparelho, pra arrumar meus dentes que me incomodavam muito, e ele ficou bravíssimo, com o mesmo discurso: só porque você ta comigo, vc vai colocar aparelho? Por que não colocou antes?
E eu, boba e sem noção nenhuma de como funcionava um relacionamento, aos poucos fui me deixando levar.
Com 3 meses de namoro briguei com a minha mae e fui morar na casa dele.
A essa altura, eu ja não tinha mais passado. Sim, porque qualquer lembrança que eu tinha da minha vida, que quisesse compartilhar, ele ficava bravo. Ele não gostava de lembrar que eu vivi 25 anos até encontrar ele, e que eu tinha conhecido lugares, pessoas e coisas que não fosse ele. E eu não tinha problema nenhum quanto a isso.
Eventualmente queria falar que ja estive em tal restaurante, mas ou mentia dizendo que não, ou era um inferno a noite inteira, dele com cara fechada.
Ele chegou ao cumulo e me fazer contar nos dedos exatamente quantos caras eu tinha ficado na minha vida. Ele PRECISAVA saber. (Pra que, senhor?)
Com ele eu peguei aversão a DRs. Brigavamos, e eu ia dormir. E eu dormia. Era o que eu fazia nesse 1 ano e meio de depressão. Era um misto de amor e ódio. Um misto de querer fazer da certo com querer desesperadamente fugir dali. Nao queria conversar porque nao havia o que ser conversado pra mim. Eu tava sufocada.
Tentei terminar com ele 1 milhai de vezes. Ele não deixava. E eu achava fofo.
Chorava todos os dias, como se chorar fosse mudar alguma coisa.
Na faculdade, iamos de carro, e ele me esperava la em baixo. Todos os dias. Eu usava um notebook na aula, e ele no carro também ligava o dele pra ficarmos falando - e brigando - durante a aula. E ai de mim se quisesse prestar atenção na aula ao invés de dar ouvidos às reclamações de não querer dizer ao lado de quem eu tava sentada, porque não era relevante.
E quando cansava e dizia que sentei do lado de amigas, ele não acreditava.
Por muitas vezes fui obrigada a ligar a camera pra ele ver quem tava do meu lado.
Foram 4 meses de brigas todo santo dia. Até que a depressao me fazia ir até a porta da faculdade todos os dias, e não querer sair do carro. Ficamos indo 1 semana inteira, e eu não conseguia entrar. Ele achava ótimo, lógico.
As vezes batia uns lapsos de sanidade e ele me incentivava a ir. Mas era raro.
Até que um belo dia eu saí brava depois de brigar (todo dia tinha briga), ele achou que eu fui pra aula. Mas não, eu fui trancar a faculdade.
Voltei assim que terminei, ele fava comendo um salgado - com um dinheiro que eu deixava pra ele pra uma emergência e que ja tinha falado pra ele por favor não gastar pq eu tava numa situação ruim - e não entendeu porque eu tinha voltado logo. Expliquei e por uns segundos ele deve ter se sentido culpado. Mas logo passou. Voltamos pra nossa vida enfiados na casa dele.
Eu tinha minha loja, não precisava sair de casa pra trabalhar. Ele desempregado.
Até que comecei a enviar currículo, mesmo tendo a minha loja, pra poder sair de casa.
A essa altura do campeonato, eu ja não podia conversar com a minha família e nem meus amigos, porque ele falava que eu ia falar mal dele. E IA MESMO. Eu queria desesperadamente desabafar. Queria uma opinião, mesmo que não fosse levar em consideração, pois não queria me separar dele.
Uma vez ele saiu de casa pra fazer alguma coisa, e eu aproveitei pra chorar. Porque nem chorar eu me dava ao luxo, porque não queria que parecesse que eu fava infeliz com ele. Afinal, eu amava ele e queria ver ele feliz.
A mae dele entrou no quarto e quando me perguntou, eu não resisti: eu disse que queria ir embora. Que não aguentava mais.
Logo em seguida ouvimos o carro chegando e ela falou que ia pra lá. Ela tinha medo dele também.

Esse livro me fez lembrar de tudo isso. Eu tinha esquecido ha muito tempo, porque inclusive anos depois nós ficamos amigos. Eu sempre admirei muito o talento dele, e isso sempre acabava nos reaproximando. Como amigos.

No livro ele relata situações diversas que te sequestram de você mesma. Seja com pais, com drogas, com parceiros…
Hoje eu posso dizer que to resgatada. Eu me resgatei, e to aqui inteira, sem vestígios da pessoa submissa que eu fui, porque eu consegui me libertar.
Num belo dia tive forças pra terminar com ele, depois de ficar das 8 da noite a meia noite tentando fazer ele acreditar que passei do meio dia as 8 na rua porque estava transito entre os lugares que tinha que ir. E ainda tava o tempo todo com a minha mae!
Ele nao acreditava. Implorava pra eu dizer a verdade. 4 horas implorando pra que eu pelo amor de Deus falasse a verdade.
Foi quando tive forças pra dar um basta, e dizer que não queria mais essa situação.

Fui me refazendo aos poucos depois disso, até que encontrei meu outro relacionamento serio, que não foi um mar de rosas, mas que foi da agua pro vinho.
Foi o extremo da diferença. Tao extremo que também não deu certo. Mas qualquer dia eu falo sobre isso.

Uma coisa que me chamou atenção no livro, foi quando ele diz que o relacionamento pra você saber se é bom, você tem que saber se depois da pessoa, seu mundo aumentou ou diminuiu.

No primeiro diminuiu.
No segundo estacionou.

Pena que a gente leva tanto tempo pra chegar a essas conclusões.
Mas estou treinando minha percepção pra saber das coisas um pouco antes.
Quem sabe meu botaozinho de “spoiler da vida” não vira pro modo on, e eu consigo ser menos boba do que tenho sempre sido, né?

Desculpem o textão. Na verdade to com vontade de escrever bastante ha muito tempo, mas a preguiça e o conformismo de ser rasa não me permitiam.
Me segura, mundo. To voltando!

Bjo

Pracy

4 comentários:

  1. Te love babyspice precisando mesmo Eu morando a milhões de km de distância temos whats! Vc é linda!

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  2. Caraaaambaaaa!!!!
    Relacionamentos abusivos, quem nunca...
    Mas bola pra frente, seguindo toda Diva ;)

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  3. UAU, nem sabia q tinha sido tão forte assim esse relacionamento. Que triste :( ainda bem que deu (duas vezes) a volta por cima. Parabéns amiga.

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